JB Xavier

Uma viagem ao mundo mágico das artes!  A journey into the magical world of  the arts!

Textos

A SENSIBILIDADE DA VIDA
A SENSIBILIDADE DA VIDA
Jonathan Xavier

A chuva continuava a cair em seu capecete. Segurando seu fuzil, sentia os braços pesados e cansados devido ao peso. Seus dedos pareciam enferrujados. Doíam constantemente. As vestes molhadas contribuiam para que esse cansaço aumentasse, deixando seu uniforme mais pesado.

Suas pernas apenas rastejaram seu corpo para aquela trincheira, tão imóveis, estáteis e até certo ponto, trêmulas.

Seus pensamentos o abandonaram, fazendo com que sua mente apenas se concentrasse nas balas que vinham em sua direçao, no suposto inimigo que o odiava.

Enterrou seu rosto na terra. Zunidos de tiros raspavam seu capacete sendo utilizado apenas para ouvir-se o tilintar das gotas pesadas.

Era noite. Não se via um palmo à sua frente. Via-se apenas raios amarelos cruzando as trincheiras, de um lado a outro. Alguns eram certeiros, outros tinham o destino de Deus de errar homens. Seus companheiros estavam ao seu lado, gritando e berrando sem parar, chamando seu nome em vão.

Não conseguia distinguir uma voz.

Não conseguia distinguir uma palavra.

Não conseguia distinguir tudo aquilo.

E pensou: "Afinal, porque eles são meus inimigos?".

Mesmo assim, no meio de tantos gritos, berros e tiros, ouviu a ordem de seu sargento para avançar.

Hesitou apenas por milésimos de segundos. Sua vida passou toda em sua cabeça. Sentiu a vida pulsar em apenas uma decisão, sensível como um fio de seda entregue nas mãos do destino. Viu seus companheiros avançando. Estava tudo escuro. Ninguem via ninguém.

E avançou quase em seguida. Podia sentir as balas raspando em seu uniforme. Podia ouvir alguns amigos, com quem aprendeu a a conviver durante anos, caindo ao seu lado, esparramados. Na corrida pela vida, olhou para seu lado esquerdo e via vultos de homens correndo desesperadamente, alguns continuando, outros caindo aos poucos, mas todos tentando.

Lá, ele era apenas número. "Um terço do pelotão morre no caminho em um ataque como este, Em compensação, o inimigo jamais espera tamanha loucura." dizia um amigo dele numa conversa de bar.

Suas pernas tinham vida própria e seus olhos enxergaram coisas que jamais enxergariam em situações normais. Após pular a trincheira inimiga, miraculosamente não encontrou nenhum soldado para lhe atacar.

Pegos de suspresa, todos estavam sendo massacrados pelos seus amigos. Após não conseguir ver bem quase nada, podia muito bem ver alguns de seus amigos atacarem com a ponta de suas baionetas ou dando tiros a queima roupa.

Podia muito bem sentir a dança da morte, tão perto da sua alma.

E sem apertar o gatilho, ouvindo o desespero de homens sendo mortos, deixou cair seu corpo debaixo de uma árvore e sentiu a sensibilidade da vida.

Seus lábios começaram a ficar trêmulos. Lágrimas escorriam de seus olhos cansados, inertes e vazios.

E chorou.

* * *
JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 18/03/2009
Alterado em 20/02/2018


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