JB Xavier

Uma viagem ao mundo mágico das artes!  A journey into the magical world of  the arts!

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WAGNER E NIETZSCHE – A POLÊMICA CONTINUA! – Parte 03 de 07 partes
WAGNER E NIETZSCHE – A POLÊMICA CONTINUA! – Parte 03 de 07 partes

J.B.Xavier

Bem vindos ao mundo da música e da filosofia. Este ensaio compõe-se de 07 partes, publicadas semanalmente.

Para quem está chegando agora:
Contemporâneas, essas duas mentes prodigiosas estiveram intimamente associadas por algum tempo, ligadas, como não poderia deixar de ser, pelas idéias grandiosas que ambas produziam.
Ao contrário de Nietzsche, Wagner era – e se considerava - um fim em si mesmo. Não se deixava influenciar por nada que não fosse monumental, especialmente no terreno musical. Sua personalidade marcante era de tal forma carismática que Nietzsche sucumbiu a ela e deixou-se apaixonar por suas idéias, para mais tarde, delas discordar e dar início à mais longa polêmica de que se tem notícia na história do pensamento humano!

* * *

PARTE III

No capítulo anterior vimos que a polêmica deflagrada por Nietzsche contra Wagner, já sobrevive há mais de um século e atraiu as opiniões de muita gente de peso.

A razão para tanta contradição, é que Wagner não foi um ser humano comum, ou mesmo normal, no sentido mais amplo do termo. A complexidade absurdamente multiforme de seu gênio confunde mesmo os mais esclarecidos analistas e críticos, porque são raríssimos aqueles que detêm  conhecimentos suficientes em todos os níveis dessa genialidade, para sustentar uma demanda sobre as mesmas.

Assim, numa frente, vemos os filósofos discutirem o universo cosmogônico sobre o qual Wagner desejava construir seu mundo particular, e as conseqüências de vir uma forma de arte – a música – se transformar numa religião. E por que não? Indagam alguns. E por que sim? Indagam outros.

E desde então, os literatos se engalfinham numa discussão sem fim. Enquanto uns tentam provar que os escritos wagnerianos eram pura mistificação, outros defendem o pioneirismo e absoluta originalidade de seus textos. E não estamos falando de umas idéiazinhas lançadas ao acaso por um músico que pensava ser um pensador. Estamos falando de dez volumes de ensaios sobre filosofia e existencialismo!

Esses escritos são tão originais em suas concepções e tão complexos em sua cosmogonia que durante minhas pesquisas, ao ler alguns deles, fiquei estarrecido com a ousadia deste homem que ousou propor tais fundamentos à cosmogênese universal.

Findei por me ater à minha especialidade – a psicologia - e me ative ao Wagner-homem, porque a simples leitura do Wager-filósofo é de tal forma magnética que em pouco já me sentia também irremediavelmente atraído e arrastado para o centro dessa magnífica e instigante discussão, mesmo tendo consiciência de que não tenho a mínima condição de acrescentar nada, ou mesmo discutir idéias tão audaciosas.

Em outra frente, vemos músicos discutindo a validade de suas temáticas e formas de construção musicais, num esforço de análise extremamente dificultado pela falta absoluta de parâmetros de comparação. Simplesmente não havia nada na música universal feita até então com que se pudesse comparar suas criações!

Numa quarta frente, vemos os sociólogos tentando definir as causas sociais que levaram à existência de talentos tão amplos reunidos numa só pessoa. A corrente dos “enviromentalist” (ambientalistas – uma escola da sociologia) tenta imputar ao meio, pura e simplesmente as razões dessa superdotação. Já os comportamentalistas (outra escola da sociologia) discordam e afirmam que há muito de hereditário nisso, e que a maneira como Wagner foi criado acabou por determinar sua visão de mundo, e conseqüentemente sua argúcia e visão holística.

O fato é que o prosaísmo do ideólogo não se coaduna com seu genial instinto de músico! Essas duas coisas não costumam conviver juntas numa mesma pessoa, e quanto o fazem, geralmente uma anula quase totalmente a outra. Mas em Wagner, o pensador e o músico existiram e conviveram em níveis igualmente geniais!

Finalmente, existem aqueles que, diante de tal complexidade de análise, reduzem e banalizam o compositor, defendendo que a dramaticidade de suas obras não seja senão, e apenas, o reflexo de seu sentimento pequeno-burguês.

Frustração. Recalque, diríamos nos dias de hoje.

Ora, reduzir a monumentalidade de uma obra como O ANEL DO NIBELUNGO às razões impostas por frustrações existenciais, é no mínimo falta de bom senso, para não dizermos falta de conhecimentos sobre as disciplinas em que Wagner foi genial.

Talvez ele seja o único compositor discutido musical e filosoficamente, com a mesma intensidade. Não há notícia de outro compositor-filosofo-ensaísta na história da música universal.      

Frente a tamanha confusão, que fazer com um homem de tamanhos talentos? Como classificá-lo? E se, afinal, os críticos tiverem razão e sua obra for despida de conteúdo, por que então se continua a representá-lo? Muitos de seus críticos contemporâneos – Meyerbier entre eles - já perderam parte do brilho que possuíam em vida, enquanto o brilho de Wagner se acentua à medida que o tempo avança? Outros, o mundo só conhece através da biografia do próprio criticado! Triste ironia!

Nossa época trouxe consigo o senso de consumo, e generalizou-se a presunção pela aplicação do método dialético, quer venha a propósito, quer não. A resposta, que não é senão a razão pela qual a obra de Wagner sobreviveu, é que, apesar dos futurismos exacerbados que ela continha - tão criticados à época de sua criação - são, ao fim, a razão maior para a perenização de seu estilo.

O estilo de Wagner seduz justamente por seus vários matizes, e a reverberação da polêmica, sobre sua pessoa, mais de um século depois de sua morte, é uma prova definitiva disso!

Ok! Dirão alguns leitores, “o século XIX foi o século de Carl Marx”. Sim, mas foi também o século de Richard Wagner. Ambos defenderam algumas utopias, mas em ambos havia a chama do futuro chamando-os para seu seio.

É difícil dizer se Wagner foi um filósofo que compunha, ou um compositor que filosofava.  O fato de Wagner ter sido músico, pode-se chamar de casuístico, e apenas nos ajuda a ter a noção exata do quanto seu gênio precisava extravasar. Poderia ter sido um pintor, ou um romancista, e provavelmente teria sido um expoente nessas artes.

A chama da curiosidade que nasceu com ele – ou nele – era maior que as padronizações estético-artísticas existentes em seu tempo. O que se esperava de um ser humano normal? Que, diante das imposições sociais necessárias ao próprio reconhecimento como artista, ele  flexibilizasse suas idéias fazendo-as caber nos moldes estéticos de então. E o padrão estético operístico era a o italiano. Ainda hoje as notações dos andamentos musicais são feitos em italiano: “Andadante com brio” “Allegro ma non troppo” “Andante Grazioso” etc.

Wagner decidiu romper com tudo isso e fazer música à moda alemã, falada em alemão, sobre libretos alemães – aliás de autoria própria!  

A maioria dos grandes músicos eram exímios instrumentistas, e foi isso que alavancou as carreiras de muitos deles. Alguns, como Franz Lizst, que veio a ser sogro de Wagner, o virtuosismo instrumental ao piano ainda não foi superado até nossos dias, não importa quão memoráveis tenham sido as performances de Rubinstein, Liberace e outros grandes pianistas de nossa época. Nenhum deles alcançou a perfeição de Lizst. O virtuosismo de Lizst era muito maior que sua capacidade de criação, embora ele tenha composto algumas obras marcantes.

Com Wagner deu-se o contrário! Ele jamais foi bom instrumentista! Seu forte não era o braçal, mas o uso do intelecto puro e simples. Ele nunca havia se interessado por música, até ouvir aquela que era considerada então – e muitos músicos atuais ainda consideram que é – a maior manifestação do gênio humano na música, a Nona Sinfonia, de Beethoven. As dificuldades técnicas de execução dessa obra são monumentais, mas justamente por isso o atraíram sobremaneira, e levou-o a tomar para si a tarefa de vertê-la para o piano, e fê-lo enquanto ainda era estudante de música!

É necessário que se reconheça que antes de Richard Wagner e depois dele, houve compositores mais exemplares, e mais “colunáveis”, mas todos eles eram mais fáceis de classificar.

Da mesma forma, houve dramaturgos, literatos e pensadores mais notáveis, e a história guarda em seus anais os registros de estilistas da língua alemã de muito maior importância que Wagner, como Schopenhauer, Feuerbach e Hegel, apenas para citar alguns.

Mas Wagner teve um pouco do gênio de cada um deles, e acabou por se tornar uma personalidade de difícil classificação!  Analisando os escritos de Thomas Mann sobre “O Caso Wagner” encontrei um trecho onde ele define o autor de AS FADAS como “um diletante genial”.

Modestamente eu ousaria acrescentar: Wagner foi o diletante necessário!

No próximo capítulo, veremos como se formou esse caleidoscópio de talentos e como Nietzsche tentou esfacelá-lo.

Até lá!

* * *

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JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 07/08/2005
Alterado em 08/03/2010


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