JB Xavier

Uma viagem ao mundo mágico das artes!  A journey into the magical world of  the arts!

Textos

O QUE É ARTE?
JB Xavier
26-04-2011

 
No dia 27 de Julho de 2010, recebi de uma artista um e-mail onde se dizia admiradora de meus trabalhos e que chegara até mim através de um amigo comum, Jaime Pina da Silveira, um mestre do bico-de-pena.
 
Neste e-mail, Sylvia, (nome fictício) me pedia que eu analisasse alguns de seus trabalhos e emitisse opinião a respeito da qualidade técnica e estética dos mesmos.    
 
Isso já me foi pedido em outras ocasiões, mas desta vez, resolvi publicar a resposta, bem como sua réplica, na esperança de que esse diálogo, possa ao menos gerar mais discussão a respeito do tema, movediço por definição, e, talvez, lançar alguma luz no caminho dos que freqüentam as mesmas dúvidas. Segue o diálogo:
 
Silvia, obrigado por seu e-mail. O Jaime Pina é uma pessoa iluminada, por quem tenho um respeito irrestrito, tanto como homem quanto como artista. 
 
O que posso lhe dizer sobre arte é um pouco o lugar comum, e um pouco da catarse pela qual um dia passa todo artista que aspira ascensão à sublimidade.  
 
A relação de amor e ódio com a Arte sempre estará presente em algum grau no verdadeiro artista, porque ele geralmente cobra de si mesmo a expansão de seus próprios limites.
 
Observe que usei a palavra “sublimidade” justamente porque a verdadeira arte tem a palavra "sublime" como essência, e esta não permite conflitos. Ou seja, para atingir o sublime, o artista precisa se desvencilhar dos paradigmas, que o tolhem, limitam e por isso mesmo, conflitam. 
 
Fácil de falar, difícil de fazer. O principal desses conflitos vem do velho hábito (paradigma) de comparar. No caminho da busca pela perfeição, artista que busca um caminho, costuma comparar seus trabalhos, e - ainda mais grave - a si mesmo, com outros artistas e seus trabalhos.
 
Mas em arte, não há comparativos. Nas mãos de artistas diferentes, a arte é emanação da alma, e portanto, completamente particular, tanto em forma quanto em substância. 
 
Se a arte não emanar da alma, se a Forma se impuser a tal ponto que obscureça o contato com o infinito da alma, então a sublimidade ainda não foi atingida e o artista ainda estará na categoria de aspirante.   
 
Isto porque quando comparamos arte, estamos nos atendo à Forma apenas, e Forma é somente a manifestação física da materialização do infinito da alma do artista, que, por ser infinita, jamais será expressa de maneira completa e satisfatória.
 
Eis o único conflito ao qual o artista pode se dar ao luxo: a busca do atingimento do sublime por via da submissão da Forma. 
 
Comparações acabam por encontrar "defeitos", quando na verdade eles serão sempre os "efeitos" de uma visão particularizada – justamente o que a torna original. 
 
Técnicas são possíveis aprender, mas a sensibilidade é inata, e é precisamente o grau dessa sensibilidade, ou seja, a capacidade que o artista tem de expandir seu universo interior, que marcará seu traço artístico, distinguindo-o de qualquer outro de seus pares.
 
No dia em que você aceitar que o que você faz é a SUA forma de fazer, e se sentir satisfeita com ela, o conflito desaparece e o exercício da Arte se tornará sua segunda natureza, certamente tão importante quanto respirar. Portanto, não se preocupe com seus desenhos. A arte não está no papel.
 
A verdadeira arte é o artista! A rigor, é o artista que deveria ser exposto nas galerias, porque é dentro dele que se revolve o turbilhão de sensibilidades ao qual ele, pobremente, consegue dar forma.
 
O papel apenas aceita aquilo que a limitada capacidade de cristalização e da sensibilidade do artista permite. E como o artista nunca será capaz de dar forma definitiva à emoção, ficará sempre por ser narrada a Obra Definitiva que ele busca realizar durante toda a sua vida.
 
Portanto, a emoção é a matéria prima do artista. É seu mundo, sua razão de existir. Eis porque a verdadeira natureza da arte não pode ser expressa.
 
Assim, a Forma que um artista pode expressar será sempre muito menor do que a emoção que a gerou. Portanto, Silvia, quando eu admirar seus desenhos, esteja certa de que não estarei olhando para seus traços, mas para a janela que eles abrem em sua alma. E a amplitude dessa janela me dirá o quão próximo ao sublime você está.
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(Sic)Nossa JB!!!! Obrigadíssima pelo seu e-mail!!!!

Fiquei emocionada com a sua resposta e agora estou sem palavras pra dizer o quanto foi
 importante tudo aquilo que você escreveu. Acho que caiu como uma luva.

Muitas vezes a vaidade e a insegurança faz a gente querer que o trabalho seja perfeito e reconhecido e com isso perdemos a oportunidade de simplesmente satisfazer a necessidade de expressar o que sentimos, não acha? Agora estou me lembrando de que quando fazia escultura em cerâmica, muitas vezes sentia que isso era visceral, algo que vem do fundo da alma e que conversa com a gente". Então sabemos o momento exato quando a obra está pronta. Essa maneira de trabalhar me dá muito prazer, mas nem sempre é assim que acontece, e em desenho acho que nunca aconteceu isso. Fico vendo um monte de defeito, mas como você disse acho que vou começar a encarar o que considerava defeitos, como um efeito, uma característica minha.

Silvia
 
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WHAT IS ART?
JB Xavier
2011-04-26

 
On July 27, 2010, an young artist email me and said me that she was an admirer of my work and had come to me through a mutual friend, Jaime Pina da Silveira, a master of the nib drawing.
 
Sylvia (not her real name) asked me if I could examine some of her works and inform her my opinion about the technical and aesthetic quality of them.
 
I was asked this already on other occasions, but this time I decided to publish the answer, as her reply, in the hope that this dialogue can at least generate more discussion about this subject, by definition unstable, and perhaps launch some light on the path of those who attend the same questions. Following dialogue:
 
Sylvia, thanks for your e-mail. Jaime Pina is an enlightened person, whom I have total respect for, both as man and as artist.
 
What I can say you about Art is a little cliché, and a bit of catharsis by which every artist who aspires to rise to sublimity shall walk one day.
 
The love-hate relationship with Art is always present to some degree in the true artist, because he usually is trying to expand his own limits.
 
Note that I used the word "sublime" precisely because the true Art has the word "sublime" as its essence, and the sublime does not admit conflict. That is, to achieve the sublime, the artist needs to rid itself of the paradigms that stunts, limits, and therefore, conflict him.
 
Easy to say, hard to do. Most of these conflicts come from the old habit (paradigm) to compare. To the quest for perfection, an artist who seeks a path, often compare his work, and - even worse – compare himself with other artists and their works.
 
But in art, there is no comparison. In the hands of different artists, Art is an emanation of the soul, and therefore completely private, both in Form and in substance.
 
If Art does not come from the soul, if Form is so necessary that make obscures the contact with the infinite of the soul, then the sublimity has not been reached and the artist will still be in the category of aspirants.
 
This is because when we comparing art, we are just thinking about Form, and Form is only the physical manifestation of the infinite artist's soul, which, being infinite, can never be expressed fully and satisfactorily.
 
This is the only conflict in which the artist can afford to: Look for the sublime through the submission of Form.
 
Comparisons end up finding "flaws" when in fact it will always be the "effects" of an individualized vision - exactly what makes it unique.
 
Learning techniques are possible, but the sensitivity is innate, and it is precisely the degree of this sensitivity, or capacity that the artist has to stretch their inner world, which he will mark his artistic streak, distinguishing him from any others.
 
On the day you accept that what you do is YOUR way of doing it, and feel satisfied with it, the conflict disappears, and the exercise of Art will become in your second nature, certainly as important as breathing. So do not worry about your drawing. In fact, the Art is not on paper.
 
True Art is the artist himself! Actually, it is the artist that should be shown in galleries, because it is inside his soul that turns the vortex of sensitivities to which him, poorly, can define a Form.
 
The paper just accepted what the limited capacity of crystallization and sensibility of the artist allow. And as the artist will never be able to give definite form to emotion, he will never make that definitive work he tries to make throughout his life.
 
Therefore, emotion is the raw material of the artist. It's his world, his reason to exist. This is why the true nature of Art can not be expressed.
 
Thus, the Form that that an artist can express will be always much smaller than the excitement that generated it. Therefore, Silvia, when I admire your drawings, be sure that I will not be looking at its features, but across the window that it open in your soul. And the extent of this window will tell me how close to sublime you are.
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(Sic) Oh, God, JB!! Thanks a lot for your e-mail!!
 
I was touched by your response and now I'm without words to say how much was
 Important that everything you wrote. I think it worked out nicely.
 
Often the vanity and insecurity makes people want the work to be perfect and recognized and thereby lose the opportunity to simply satisfy the need to express what we feel, is not it? Now I am reminding myself that when I made ceramic sculpture, often felt that it was visceral, something that comes from the heart and talk with us. "So we know the exact moment when the work is done. This way of working gives me much pleasure, but not always happen that way, and drawing I think it never happened. I'm seeing a lot of defects, but as you said I guess I'll start to tackle what he considered flaws, as an aspect mine.
 
Silvia
 
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JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 27/04/2011
Alterado em 30/04/2011


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